terça-feira, 27 de agosto de 2013

Risco de professor já é visto como o de um PM

Eduardo Athayde / Especial para o DIÁRIO de SP, em 22/08/2013 06:39.

Projeto aprovado por comissão da Câmara prevê pagamento de adicional de periculosidade na periferia.


Há uma semana, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal de São Paulo aprovou projeto de lei que equipara o risco de ser professor na rede municipal de ensino ao de ser policial.

De autoria do vereador Coronel Telhada (PSDB), o projeto concede adicional de periculosidade de 30% sobre o valor do salário bruto a quem dá aulas em escolas da Prefeitura localizadas em distritos da cidade com altos índices de violência.

Segundo o governo do estado, os policiais civis e militares não recebem adicional por periculosidade, mas sim por insalubridade. Porém, os dois benefícios em geral são muito parecidos, segundo a assessoria jurídica do vereador Eduardo Tuma (PSDB), relator do projeto de lei.

A justificativa da proposta se baseia em pesquisa da Apeoesp (Sindicato dos Professores da Rede Estadual). O texto aponta que, de cada 100 professores, 44 dizem já ter sofrido algum tipo de agressão. “Ser professor é uma profissão de risco comparada à de um policial, com o agravante de que o professor não tem uma arma de fogo para se defender”, disse Telhada.

Antes de passar a valer, o projeto precisa ser aprovado por outras comissões da Câmara, ser votado em plenário e depois sancionado pelo prefeito Fernando Haddad (PT). Atualmente, a rede municipal de ensino da capital tem 64 mil professores distribuídos em 2.722 escolas

Capão Redondo


O DIÁRIO esteve em uma escola municipal no Capão Redondo, na Zona Sul, uma das regiões mais violentas da cidade. Entre professores, funcionários, alunos e pais de alunos, a reportagem ouviu sete pessoas. Somente uma delas disse nunca ter visto alguma cena de violência moral ou física contra docentes ocorrida dentro do colégio do bairro.

Docente sofre bullying por ter trejeitos de homossexual


J. é professor de uma escola municipal no Capão Redondo, Zona Sul, uma das regiões mais violentas da capital. Ele carrega alguns trejeitos clichês de um homossexual. Por isso, diz ser vítima de bullying dos próprios alunos que, na opinião dele, não conseguem conviver de maneira harmoniosa com o diferente. “Os alunos riem, fazem chacota. Há vários que não aceitam o que não se parece com eles”, disse.

No corredor da escola, o DIÁRIO encontrou um estudante da 6 série do ensino fundamental, provavelmente posto do lado de fora da sala por mau comportamento. Quando indagado se sabia de casos de professores vítimas de violência física ou moral, o garoto, de imediato, se lembrou de J. “Nossa, ele (J.) é muito zoado pela molecada”, afirmou.

Sindicato é contrário a pagamento adicional


O presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo, Claudio Fonseca, disse ser contrário ao pagamento do adicional de periculosidade previsto no projeto de lei aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal. “Esse mesmo percentual de 30% que o adicional prevê pode ser usado na valorização do professor”, afirmou ele.

64 mil são os professores da rede municipal

Secretaria diz pagar outros adicionais


A Secretaria da Educação informou que tem por política não comentar projeto de lei até que ele seja aprovado em definitivo. No entanto, a pasta disse que os professores já ganham adicionais noturno e por distância do trabalho.

Entrevista: M._Professora municipal


‘Só não me bateram porque o pessoal apartou a briga’

Dar aulas de português é o ganha-pão da professora M., que leciona na mesma escola do professor J., no Capão Redondo, Zona Sul. Ela disse já ter sofrido várias agressões verbais e por pouco não foi agredida fisicamente por um aluno. Leia os principais trechos da entrevista.

DIÁRIO_ A senhora já foi agredida por algum aluno enquanto dava aula?
M._ Por pouco. Houve uma vez que um aluno veio para cima de mim com tudo para me agredir, no meio da sala de aula. Se não fosse o pessoal do deixa-disso chegar a tempo, ele com certeza teria me batido.

Que outro tipo de agressão a senhora já sofreu?
Verbais foram várias vezes. Teve aluno que já me mandou para aquele lugar. Eles fazem isso com uma naturalidade incrível. É muito difícil querer ensinar num ambiente assim

A senhora é a favor do adicional de periculosidade?
Não. É preciso, antes de tudo, dar condições dignas de trabalho ao professor.
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