segunda-feira, 15 de outubro de 2012

"Nunca o ameacei", diz Telhada sobre jornalista

O coronel reformado da PM e vereador eleito de São Paulo Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada afirma que não conhece o repórter da "Folha de S.Paulo" André Caramante

DANILO THOMAZ via Revista Época

Eleito vereador de São Paulo com um discurso duro na área da segurança, Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, 50 anos, ou simplesmente Coronel Telhada (PSDB), afirma que sua expressiva votação (quase 90 mil votos) reflete o "reconhecimento" do paulistano ao trabalho da Polícia Militar. "Muitas pessoas querem mostrar o criminoso como vítima do sistema, mas a vítima do sistema é o cidadão. A população cansou de ser explorada, de ter que ficar presa dentro de casa, de ver bandido ser elogiado por todas as pessoas. Quem tem que ser valorizado é a população de bem."

Telhada comandou a Rota, grupo de elite da PM paulista, até o final do ano passado, quando se aposentou. Sua votação foi a segunda maior do PSDB para a Câmara Municipal de São Paulo, e ele, o quinto vereador mais votado neste ano. No início de sua campanha, ele se envolveu em polêmica com o repórter André Caramante, especialista em segurança pública, da Folha de S.Paulo. Segundo o jornalista, em entrevista a Eliane Brum, Telhada, em perfil no Facebook, o criticou por conta de uma reportagem publicada pela Folha. "No dia da publicação no jornal, 14 de julho, ele postou no Facebook uma mensagem na qual me acusava de 'defender abertamente o crime' e pedia uma mobilização contra mim. A conduta desse senhor deflagrou uma onda de tentativas de intimidação, de incitação à violência contra um jornalista – um profissional que apenas retratou o que o próprio coronel reformado registrou publicamente na rede social. Não estou dizendo que ele quis ou que ele não quis incitar atos violentos. Estou dizendo que acabou incitando", disse Caramante, que está vivendo com sua família fora do Brasil

O vereador eleito nega ter feito ameaça. "Nunca conversei com esse cidadão. Não o conheço, nunca falei com ele nem por telefone. Desconheço esse cidadão, nunca falei com ele, nunca conversei com ele, nunca o ameacei, se tiver alguma ameaça minha que você consiga levantar, terei até prazer em responder (...) Saiu do país por quê? Sou ameaçado todo dia por telefone por um monte de coisa e continuo morando no mesmo lugar porque não tenho condição de mudar de casa nem de sair do país. Agora, se ele saiu do país, alguma coisa ele fez, não sei o que foi. Não sei quem é esse cidadão."


O tenente-coronel Paulo Adriano Lopes Lucinda
Telhada em foto de arquivo
(Foto: Mauricio Camargo/Futura Press)

Leia a entrevista:

ÉPOCA – A que o senhor atribui a sua vitória?
Telhada – Primeiro , à minha história de vida. Tenho 33 anos de polícia, 50 de idade. Tenho uma vida pública ilibada com várias atuações em combate ao crime, várias ações em prol da comunidade. E também ao reconhecimento do trabalho da polícia junto à sociedade. Acho que isso é uma resposta aos problemas que a população tem enfrentado com a violência. As pessoas querem que gente que trabalhe nessa área tenha uma postura adequada, honesta.

ÉPOCA – A população apoia uma política de segurança mais dura?
Telhada – Acho que a população precisa de uma polícia que cumpra as leis do jeito que elas são. Infelizmente, no Brasil, alguns setores passaram a encarar o criminoso como uma vítima da sociedade. Passou a se mostrar o criminoso como aquele coitadinho que sofreu na mão da sociedade e agora luta contra o sistema. O cara é quase um caubói social. Bandido é bandido. O bandido quer ganhar dinheiro não importa de que maneira. E a população tem sido a grande vítima. Muitas pessoas querem mostrar o criminoso como vítima do sistema, mas a vítima do sistema é o cidadão. A população cansou de ser explorada, de ter que ficar presa dentro de casa, de ver bandido ser elogiado por todas as pessoas. Quem tem que ser valorizada é a população de bem.

ÉPOCA - Como o senhor acredita que a polícia deve agir diante dos criminosos?
Telhada – Dentro da lei. O bandido tem que ser preso, cumprir a pena integral, tem que ser colocado no lugar dele na sociedade. Muita gente quer mostrar o bandido como vítima. Tive um sargento que tomou não sei quantos tiros na cara no litoral e é normal. Queria ver se um criminoso morresse assim. Semana retrasada nós enterramos um soldado morto com dois tiros de fuzil nas costas e eu não vi publicação na imprensa. Quando morre um policial barbaramente todo mundo acha normal. Quando a gente vê um criminoso morrer trocando tiro com a polícia, muita gente se dói. A resposta está aí. Quem tem que ser valorizado é o policial, o cidadão de bem. Bandido tem que ir pra cadeia, cumprir pena.

ÉPOCA – O senhor acredita que falta rigor, por parte da sociedade, com os criminosos no Brasil?
Telhada – Muita gente no Brasil confunde o criminoso com o guerrilheiro dos anos 70, onde tinham ideias de liberdade, de lutar contra o sistema. Muita gente confunde o criminoso comum - aquele ladrão que entra em casa, estupra, mata o pai de família, agride a vítima - com uma vítima. "Eles são violentos porque não tiveram oportunidade". Eu vim de uma família pobre, da periferia Freguesia do Ó, passamos fome, estudei em escola pública, comecei a trabalhar com 14 anos, hoje sou coronel aposentado, graças a Deus eleito vereador. Não se valoriza o cidadão que levanta cedo, pega ônibus lotado, come marmita. Hoje quem tem valor é o cara que fica na rua empinando moto, é o cara que não trabalha, fica a noite no baile funk. O cara que tem que levantar no dia seguinte de madrugada é o trouxa da sociedade.

ÉPOCA – Que projetos o senhor pretende apresentar à cidade como vereador?
Telhada – É dificil falar em projetos por enquanto, porque não temos nem um prefeito definido. Precisamos definir o prefeito para saber como vamos trabalhar. A minha pretensão é trabalhar diretamente com a segurança municipal, visando a Guarda Civil metropolitana, que a gente sabe que tem muita coisa pra fazer. Temos que retomar curso na Guarda Metropolitana, fazer novos cursos. Melhoria salarial para todo funcionalismo público municipal, que está muito esquecido, o pessoal esqueceu dessa classe. QUero ajudar em tudo que for possível: educação, saúde, segurança. Não interessa de quem seja o projeto. Seja de que partido for. Se a pessoa apresentar um projeto que for fazer bem pro cidadão, eu vou apoiar. O que interessa é apoiar a população. Devemos ser fiscalizados, acompanhados. A mídia tem que acompanhar, exigir postura. É o que precisamos em São Paulo: Pessoas que trabalhem firme, com honestidade e deem retorno à população.

ÉPOCA – Na sua gestão, a violência da Rota aumentou em 63%. Qual a causa disso?
Telhada – Onde você viu essa informação? Eu desconheço. Não se fala em número de presos, armamentos apreendidos, presos recapiturados. Essa informação é oficial?

ÉPOCA – É.
Telhada – Eu desconheço.

ÉPOCA – O senhor considera a Polícia Militar violenta?
Telhada – Estou falando de um sargento que tomou tiro de fuzil na cara e vem falar que a Polícia Militar é violenta? Um dia eu saí de casa sábado de manhã e tomei 11 tiros na porta da minha casa. Este ano morreram 78 policiais. O crime é violento. Quem está atacando a populaçao é o crime. A polícia se defende porque a obrigação dela é guardar a sociedade. As nossas leis precisam ser revisadas.

ÉPOCA – Revisadas de que forma?
Telhada – Todo o sistema legal, todo sistema juridíco. Você tem pessoas que cometem crimes hediondos, pegam 200 anos, cai para 30, com bom comportamento cai pra 25, primeira vez que comete crime vai para 20. No final, o cara "puxa" oito anos de prisão. O nosso sistema jurídico não pune exemplarmente. O cara comete um crime e não paga o crime. Isso incentiva que novas pessoas cometam crimes. Nós precisamos rever o sistema penal. A população sente muito isso. Sente que o criminoso não está sendo punido.

ÉPOCA – Ao mesmo tempo o Brasil tem a quarta população carcerária do mundo.
Telhada – Você não quer que o coronel Telhada explique a segurança do país, não é? Você tem que entender: Nosso sistema legal é falho. As cadeias não recuperam ninguém. A turma fala tanto em Estados Unidos. A gente vê nos filmes o sistema penintenciário americano, a pegada lá é outra. Lá o cara puxa pena, tem prisão perpétua. O crimininoso sabe que vai morrer na cadeia. Nós temos que mudar muita coisa. Mas não sou eu, coronel Telhada, recém-promovido a vereador, que vou resolver o problema. Eu sou um velho soldado só.

ÉPOCA – Embora a taxa de homicídios em São Paulo tenha caído, a violência foi do sexto para o segundo lugar no ranking de preocupações dos paulistanos, segundo o Datafolha. Como o senhor explica isso?
Telhada – A violência sempre foi uma preocupação. São Paulo cresceu muito. Todos os problemas cresceram. O problema de segurança também. Não só em São Paulo. Em Conchichina da Serra nós temos violência. O cidadão tem que se preocupar, sim. Tem três condições básicas para se viver em sociedade: educação, saúde e segurança.

ÉPOCA – O que o senhor vê como causas da violência?
Telhada – A falta de educação leva à violência, a falta de religião, de emprego, de estrutura familiar, social. Não sou sociólogo, sou policial. Você tem que perguntar isso pro sociológo. Se a gente tivesse investido mais nessa parte, talvez muitos criminosos não seriam criminosos. Mas não cabe a mim discutir isso com você. Como policial que fui a vida toda, cabia a mim prender o bandido, combater o crime. O motivo que levou o cidadão a virar criminoso não sou eu que vou falar pra você, nem sou eu que vou cuidar disso.

ÉPOCA – Quais os principais problemas relativos à segurança pública?
Telhada – Precisamos de uma legislação mais forte no combate ao crime. A nossa legislação não pune o criminoso da maneira adequada, ela até incentiva determinados crimes porque as penas são baixas. O criminoso prefere correr o risco de fazer o crime.

ÉPOCA – O senhor é a favor da prisão perpétua?
Telhada – Sou.

ÉPOCA – E da pena de morte?
Telhada – Sou contra. A pena de morte no Brasil criaria muitos heróis. Não resolveria nada. A punição eficaz seria séria, severa e prisão perpétua em muitos casos. Muita gente ia pensar antes de fazer as loucuras que fez esses anos.

ÉPOCA – O repórter da Folha de S.Paulo André Caramante deixou o país recentemente, alegando sofrer sucessivas ameaçadas que foram atribuídas ao senhor. O que senhor tem a dizer a respeito?
Telhada – Ameaçado por mim? Ele que mostre onde foi ameaçado por mim. Nunca conversei com esse cidadão. Não o conheço, nunca falei com ele nem por telefone. Desconheço esse cidadão, nunca falei com ele, nunca conversei com ele, nunca o ameacei, se tiver alguma ameaça minha que você consiga levantar, terei até prazer em responder. Desconheço que seja isso. Nunca falei com ele, nunca ameacei. Saiu do país por quê? Sou ameaçado todo dia por telefone por um monte de coisa e continuo morando no mesmo lugar porque não tenho condição de mudar de casa nem de sair do país. Agora, se ele saiu do pais, alguma coisa ele fez, não sei o que foi. Não sei quem é esse cidadão.

Share/Bookmark

Nenhum comentário:

Postar um comentário