quinta-feira, 7 de novembro de 2013

PP fica enfraquecido em SP com impugnação de Maluf, avaliam analistas

A condenação do deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) no Tribunal de Justiça de São Paulo pelo crime de superfaturamento nas obras do túnel Ayrton Senna e a possível inelegibilidade dele em 2014 enfraquece o Partido Progressista em São Paulo, segundo análise de cientistas políticos ouvidos pelo Terra Magazine.


POR RODRIGO RODRIGUES via Terra Magazine, em 04/11/2013.

Na opinião desses especialistas, a imagem do partido no estado está muito atrelada ao ex-prefeito e ex-governador, que sempre foi a figura central da legenda e ocupa a presidência estadual há vários mandatos. “O eleitor malufista não votava no PP, votava no Maluf e no discurso da repressão policial e pena de morte adotado por ele. Com a impugnação, esses eleitores podem se dissipar facilmente, já que o discurso fora adotado por outros candidatos como Conte Lopes ou o Coronel Telhada, eleitos vereadores com a mesma plataforma ano passado”, afirma Bruno Lima Rocha, cientista político da ESPM Sul, em Porto Alegre.

Eleito com mais de 497 mil votos em São Paulo na última eleição, o deputado federal Paulo Maluf é a maior e talvez a única grande estrela do Partido Progressista (PP) no estado de São Paulo. Com uma bancada de apenas quatro deputados federais, dois deputados estaduais e dois vereadores na capital paulista, o PP pode sofrer um grande revés no estado, caso Maluf seja impedido de concorrer nas próximas eleições. “A impugnação de Maluf deixa o PP mais fraco na hora de formar uma aliança proporcional para a disputa em São Paulo. Embora a votação dele venha diminuindo ao longo dos anos, ele sempre figurava entre os campeões de votos e ajudava a eleger parlamentares de menor expressão. A cobiça por ele não estava apenas no tempo de TV da legenda, mas também na possibilidade da aliança fazer mais bancada”, analisa Rocha.

No pleito de 2010, o PP elegeu apenas dois deputados federais além de Maluf: Aline Correa, com 78.317 mil votos, e o Missionário José Olímpio, que teve 160.813 votos. Depois da dança das cadeiras promovidas no Congresso nesse ano com o fim do prazo de filiação partidária, o PP ganhou mais um adepto: o deputado Guilherme Mussi, eleito originalmente pelo PV com 98.702 votos. Juntos, os três somam 337 mil votos e não atingem o patamar de sufrágios de Paulo Maluf. “A dança das cadeiras no Congresso não filiou nenhum político capaz de atrair para o PP sozinho os eleitores fiéis e mais conservadores que votam no Maluf. Embora o deputado ainda tenha forte influência entre os eleitores dele, a legenda sai muito enfraquecida”, diz Cristiano Noronha, cientista político da Consultoria Arko Advice. “Mesmo se o Maluf escolher um novo Pitta, como no passado, esse candidato não terá o mesmo peso eleitoral e pode não figurar entre os mais votados”, completa.

Bastidores


Embora o PP possa sair com poder de fogo diminuído nas próximas eleições, a eminente ausência de Maluf no ano que vem da disputa eleitoral não tira o ex-prefeito do xadrez político. A aposta dos especialistas é que ele continua com poder de barganha para negociar acordos eleitorais no estado, como aconteceu em 2010, quando o ex-prefeito impôs a Lula e Fernando Haddad (PT) o fechamento de um acordo no quintal da mansão dele em São Paulo. “Mesmo inelegível, certamente Maluf continuará atuando nos bastidores e garantindo cacife para o PP pleitear secretarias em eventuais acordos eleitorais. O fato de ainda ocupar a presidência do partido mostra a influência que ele tem na legenda”, avalia Noronha.

Defensor de temas polêmicos como a pena de morte e dono do bordão “a Rota da rua”, Maluf sempre aparece na lista de deputados federais mais bem votados de São Paulo desde quando deixou a cadeira de prefeito da cidade, em 1996. A última eleição majoritária que ele concorreu foi em 2008, quando concorreu a prefeitura de São Paulo e obteve apenas 5,91% dos votos válidos, totalizando 376.734 votos. “Para o eleitorado de Maluf, ele estar fora da eleição é mais grave que ele ser procurado pela Interpol. Será uma ausência que abrirá caminho inclusive para aqueles que já ensaiam o discurso de repressão a manifestantes e Black blocs”, diz Bruno Rocha.
Share/Bookmark

Nenhum comentário:

Postar um comentário