sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Analistas veem pouca margem de atuação para a 'bancada da bala'

Os três ex-coroneis de forças militares, dois das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e um da Polícia Militar (PM), que foram eleitos para a Câmara dos Vereadores de São Paulo não devem ter muito espaço de atuação na área de segurança pública, embora tenham dado prioridade ao tema em suas campanhas.

via DCI.

Camila Souza Ramos

SÃO PAULO - Os três ex-coroneis de forças militares, dois das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e um da Polícia Militar (PM), que foram eleitos para a Câmara dos Vereadores de São Paulo não devem ter muito espaço de atuação na área de segurança pública, embora tenham dado prioridade ao tema em suas campanhas. Paulo Adriano Telhada (PSDB) e Conte Lopes (PTB) foram coronel e tenente da Rota, respectivamente, e Álvaro Camilo (PSD) foi comandante da PM entre 2006 e 2010. Também foram eleitos dois ex-policiais civis: Paulo Batista dos Reis (PT) e Celso Jatene (PTB). A eleição de Camilo e Jatene é a segunda em seus currículos. Ex-membros de forças policiais, os cinco futuros vereadores já são chamados de “bancada da bala”.

Segundo o cientista político Eduardo Viveiros, professor do Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo, é possível que essa bancada tenha uma atuação mais voltada para o “poder de fogo da Guarda Civil Metropolitana [GCM]”, que, segundo o especialista, está com armamentos ultrapassados.

Atualmente, a responsabilidade pelas políticas públicas de segurança é uma atribuição do poder estadual, que comanda a PM e seus batalhões especiais, incluindo a Rota. O coronel Telhada, em sua campanha, tinha como slogan “uma nova Rota para a política de São Paulo”, e prometia mudanças no Código Penal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), embora um vereador não tenha esse poder. O lema de Conte Lopes, ex-capitão da Rota no governo de Paulo Maluf (PP), por sua vez, era “segurança para São Paulo”.

A socióloga Camila Nunes Dias, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) e professora da Universidade Federal do ABC (UFABC), acredita que a conquista desses cargos “é mais um degrau para uma plataforma maior, para chegar à Assembleia Legislativa, onde pode-se tentar implantar essas orientações políticas de segurança”. Ela ressalta, no entanto, que a linha ideológica que pode guiar a atuação desses vereadores no próximo mandato tem como referência uma “ideia da segurança baseada estritamente na repressão, de uma polícia repressiva com relação a jovens e adolescentes”.

O cientista político Eduardo Viveiros observa que, dependendo do candidato a prefeito que for eleito, pode haver conflito entre essa bancada e o poder executivo com relação às políticas relacionadas aos direitos humanos. “Claro que o vereador tem que se comportar dentro do ponto de vista do decoro parlamentar, da suposição de leis municipais”, afirma o analista, mas, “com uma prefeitura do PT, que tem um discurso de direitos humanos diferente”, é possível haver mais conflito.

Ambos concordam que, embora a plataforma da segurança pública não seja de âmbito municipal, é um discurso sensível para boa parte do eleitorado paulistano. “Não é primeira vez que representantes da PM são eleitos”, observa a socióloga do NEV. Além da reeleição de Camilo, os eleitores de São Paulo já foram responsáveis por duas eleições do coronel Ubiratan Guimarães, comandante do massacre do Carandiru em 1999 e morto em 2006. “Quando ele se elegeu deputado estadual, o número da sigla era 11.111, uma referência explícita ao massacre do Carandiru, que vitimou 111 presos”, recorda Dias.

Viveiros observa que, além da sensibilidade do eleitorado com a pauta da segurança pública, os crescentes ataques a efetivos das forças militares favoreceu a ascensão política desse setor. “É sintomático, porque os policiais militares estão sofrendo com a ação de bandidos, e é natural que esse setor se articule politicamente”. Para o analista, “às vezes é melhor ter dentro do Parlamento uma discussão política que envolva diversas visões do que ter esse discurso fora desse molde político, insuflando as tropas contra as pessoas e dando respaldo a execuções”.
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