quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Votação de homenagem à Rota cria tensão e paralisa Câmara de São Paulo

Enquanto não se atinge o número de 19 votos contra ou 37 a favor, proposta de Telhada segue de pé
Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress
Redação da RBA publicado 03/09/2013 13:07, última modificação 03/09/2013 14:12

Militantes estarão presentes à sessão de hoje para combater proposta do vereador Coronel Telhada (PSDB), que convocou PMs e seus familiares a também comparecer. Pauta fica travada por projeto.


São Paulo – Uma sessão tensa é aguardada na Câmara Municipal de São Paulo na tarde de hoje (3), quando deverá ocorrer nova tentativa de votação em plenário do projeto do vereador Coronel Telhada (PSDB) que quer conceder uma “Salva de Prata” para as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota).

Movimentos sociais ligados à periferia e à questão racial estão organizados para comparecer ao plenário hoje, às 14h, e pressionar pela rejeição da homenagem. Por sua vez, Telhada divulgou em sua página no Facebook uma convocação para que PMs e familiares compareçam à sessão.

Essa será a quarta tentativa do vereador tucano de aprovar a homenagem. Nas três anteriores, a proposta não conseguiu voto favorável de 37 dos 55 vereadores – tampouco se obteve 19 votos contrários, o necessário para arquivar o texto. Isso ocorreu após o vereador Toninho Vespoli (PSOL) pedir votação nominal, o que forçou a bancada do PT, a maior da Casa, com 11 vereadores, a votar contra o projeto.

Vespoli promete pedir verificação nominal novamente. Segundo o blog de Diego Zanchetta na página do jornal O Estado de S. Paulo, a petista Juliana Cardoso defendeu que a bancada do PT votasse “não” ao projeto e venceu a posição do líder de governo Arselino Tatto (PT), que defendia a abstenção dos petistas.

A não aprovação da homenagem está travando a tramitação de temas importantes na Câmara, como um pacote de isenções fiscais que será criado para ajudar no desenvolvimento da zona leste. O líder do PSDB, Floriano Pesaro, já avisou que nada mais será votado na Casa enquanto o projeto de Telhada não for aprovado.

Militantes relatam pressão da PM


Na tarde de ontem, dois militantes do Comitê Contra o Genocídio da Juventude Preta, Pobre e Periférica percorreram os corredores da Câmara e colaram na porta dos gabinetes cartazes demarcando quem votou contra ou a favor da proposta de Telhada. A ação terminou com pressão de oficiais da PM lotados na Câmara, que constrangeram os ativistas.

É o que relata Miguel Ângelo Sena da Silva Júnior, que, ao lado da colega Priscila Costa, esteve na Câmara ontem. Segundo ele, os dois colavam cartazes no sexto andar quando foram abordados pelos policiais, que disseram ter recebido queixa sobre a ação, que estaria ofendendo pessoas na Casa.

Os policiais retiveram os cartazes e o RG dos dois militantes e os encaminharam para a assessoria da PM, no oitavo andar, para o que chamaram de “qualificação” e para checar o regimento da Câmara sobre a ação. “O tratamento deles comigo, que sou negro e uso um black power, foi distinto do com a minha colega, que é branca e tem cabelo liso. Eles me perguntaram coisas como onde eu moro, se sou formado, de forma ofensiva”, relata.

No oitavo andar, os policiais pediram endereço, estado civil e outras informações dos ativistas. “Um deles anotou meu endereço duas vezes e um dos papéis ele guardou no bolso. Quando minha colega falou o nome da rua dela, ele reconheceu que ficava na favela São Remo (zona oeste) e a partir daí o tratamento com ela começou a ser mais rude”, conta Miguel.

Após terminar de retirar os cartazes, os dois militantes procuraram o gabinete de vereadores contrários à “Salva de Prata” e relataram os constrangimentos que sofreram. O vereador Toninho Vespoli (PSOL) elaborou uma carta que deverá ser lida no plenário com assinatura de outros vereadores denunciando o caso. A vereadora Juliana Cardoso (PT) afirmou que também fará uma fala sobre isso no plenário e levará o caso à Comissão de Direitos Humanos da Casa.

“Entendemos que as pessoas são livres para se manifestar, aqui é a Casa do Povo. E eles o fizeram de forma totalmente ordeira, colando cartazes. Mesmo que isso não seja permitido, na hora em que foram abordados para dizer que era proibido, não resistiram. Eles acharam que tinham o direito e não ofereceram resistência”, afirma o vereador Vespoli.

“O que não é justo é qualquer gabinete com seus assessores tirar foto deles, como parece que foi feito por assessores do vereador Telhada. Também não é justo, no oitavo andar, eles se sentirem intimidados pela PM. Os policiais pegaram os endereços deles, de jeito ofensivo, como se pudessem ser visitados por PMs a qualquer momento. Esses são procedimentos que não deveriam ser de uma Casa do Povo. O mínimo é tratar as pessoas com educação”, completa.
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