quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Na quarta tentativa, Câmara de São Paulo aprova homenagem à Rota

Protestos: Jovens de grupos ligados ao combate à violência contra a população negra estiveram na Câmara para se opor à concessão da honraria
Danilo Ramos/RBA
Por Eduardo Maretti, da RBA publicado 03/09/2013 17:53, última modificação 04/09/2013 00:40

Proposta do vereador Telhada (PSDB) recebeu 37 votos a favor e 15 contrários. Sessão contou com presença de manifestantes pró e contra, e alguns acabaram expulsos do plenário


São Paulo – A Câmara Municipal de São Paulo aprovou – por 37 votos contra 15 e uma abstenção – na tarde de hoje (3) a outorga da chamada “Salva de Prata” à Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), conforme o projeto de decreto legislativo do vereador Coronel Telhada (PSDB). A sessão extraordinária foi tumultuada, com manifestantes contra e a favor nas galerias travando uma “guerra” de palavras de ordem. O presidente da Casa, José Américo (PT), pediu auxílio do policiamento para colocar alguns manifestantes para fora do Plenário.

Foi a quarta tentativa do vereador tucano de aprovar a “Salva de Prata”. Os votos contrários foram 11 do PT, mais um de PV, PCdoB, PPS e PSOL. Nas três votações anteriores, o PDC não conseguiu voto favorável de 37 dos 55 vereadores, o mínimo necessário, mas também não se chegou aos 19 votos contrários suficientes para arquivar a proposta. No dia 28 de agosto, faltou apenas o apoio de um vereador e a sessão terminou com 36 favoráveis, 14 contrários e cinco abstenções.

A sessão de hoje foi tensa. Movimentos sociais, principalmente da periferia e vinculados à questão racial dividiram as galerias com um grupo que apoiava o projeto de Telhada, que convocou PMs, familiares de policiais e simpatizantes de seu projeto pelo Facebook.

Deputados de esquerda e direita foram vaiados e alvos de hostilidades. Telhada e Conte Lopes (PTB) foram xingados de assassinos; os vereadores petistas e Orlando Silva (PCdoB), de “mensaleiros”. O presidente José Américo alertou que os parlamentares não podiam ser interrompidos em seus discursos, e ameaçou várias vezes retirar pessoas ou grupos do plenário. Por fim, cumpriu as ameaças e mandou o policiamento retirar três manifestantes.

“Não sei por que tanta briga por causa de uma medalha”, disse o vereador Conte Lopes ao subir na tribuna. “Vocês têm dificuldade de conviver com a democracia”, afirmou, dirigindo-se a manifestantes que o impediam de falar.

Admiração: Convocados por Telhada, apoiadores da corporação saíram da sessão satisfeitos com a aprovação da homenagem
Danilo Ramos/RBA

Câmara rachada


O vereador Ricardo Young (PPS) chamou a atenção para a divisão que o projeto de Telhada provocava na Câmara e nas tribunas, e disse que a proposta não poderia ser aprovada com o parlamento dividido. “Estou aqui há oito meses e até hoje não tinha visto uma divisão tão grande”, explicou. “Como fazer uma homenagem com tamanha divisão? É óbvio que a sociedade precisa da polícia, mas é óbvio também que a polícia precisa respeitar a periferia”, afirmou Young, que está em seu primeiro mandato.

O vereador Orlando Silva pediu “reflexão à bancada do PSDB de José Gregori, de Franco Montoro e de Mário Covas, que enfrentaram o autoritarismo a vai se juntar a quem afronta os direitos humanos”. O PSDB, porém, além de ser a legenda do autor do projeto, votou em bloco na proposta de Telhada.

Em seu discurso, a vereadora Juliana Cardoso (PT) esclareceu que o voto de seu partido não é contra a Polícia Militar. “Estamos discutindo no campo das ideias. Não somos contra a corporação. A Rota vai às periferias e acaba com a juventude, principalmente a juventude negra.” Segundo Juliana, o projeto Telhada, numa primeira versão, “defendia a Rota contra (Carlos) Lamarca e Carlos (Marighella) e a favor da ditadura. Por isso, estamos debatendo uma questão ideológica”.

“A juventude negra tem medo da Rota e 65% dos mortos pela Rota são inocentes. A homenagem à Rota divide a Câmara”, disse Orlando Silva (PCdoB). “Declaramos nosso absoluto repúdio ao decreto. A Rota foi criada nos anos 1970 para combater os grupos que lutavam contra a ditadura”, discursou Toninho Vespoli (PSOL).

Torturado no DOI-Codi no período da ditadura (1964-1985), o vereador Gilberto Natalini (PV) foi o único de seu partido que votou "não". "Votei contra, achava que não era o caso de fazerem essa homenagem, mas respeito a posição da maioria." Dos quatro deputados do PV, dois foram "sim" e um se ausentou.

O vereador Conte Lopes (PTB) disse que a população na periferia “adora” a Rota e que o governador Franco Montoro acabou com o Dops, mas não extinguiu a corporação porque a sociedade a apoia.

O autor do projeto, vereador Coronel Telhada, também afirmou que a população é a favor e apoia seu projeto. “A Rota é contra a corrupção e a favor da ordem. Na hora em que as pessoas precisam, é a PM que chamam”, disse. “Esse pequeno grupo contra, que está aqui, não representa nada”, declarou, dirigindo-se aos que o vaiavam da tribuna.

Telhada: O vereador do PSDB fez três tentativas fracassadas de votar o projeto, que hoje finalmente atingiu os 37 votos necessários
Danilo Ramos/RBA

Confira como votaram os vereadores:


Abou Anni (PV) SIM

Adilson Amadeu (PTB) SIM

Alessandro Guedes (PT) NÃO

Alfredinho (PT) NÃO

Andrea Matarazzo (PSDB) SIM

Ari Friedenbach (PPS) Abstenção

Arselino Tatto (PT) NÃO

Atilio Francisco (PRB) SIM

Aurélio Nomura (PSDB) SIM

Dr. Calvo (PMDB) SIM

Claudinho de Souza (PSDB) SIM

Conte Lopes (PTB) Sim

Coronel Camilo (PSD) SIM

Coronel Telhada (PSDB) SIM

David Soares (PSD) Sim

Edir Sales (PSD) SIM

Eduardo Tuma (PSDB) SIM

Floriano Pesaro (PSDB) SIM

George Hato (PMDB) SIM

Gilson Barreto (PSDB) SIM

Goulart (PSD) SIM

Jair Tatto (PT) NÃO

Jean Madeira (PRB) SIM

José Américo (PT) NÃO

José Police Neto (PSD) SIM

Juliana Cardoso (PT) NÃO

Laércio Benko (PHS) SIM

Marco Aurélio Cunha (PSD) SIM

Mario Covas Neto (PSDB)

Marquito (PTB) SIM

Marta Costa (PSD) SIM

Milton Leite (DEM) SIM

Nabil Bonduki (PT) NÃO

Natalini (PV) NÃO

Nelo Rodolfo (PMDB) SIM

Noemi Nonato (PSB) SIM

Orlando Silva (PC do B) NÃO

Ota (PSB) SIM

Patrícia Bezerra (PSDB) SIM

Paulo Fiorilo (PT) NÃO

Paulo Frange (PTB) SIM

Pastor Edemilson Chaves (PP) SIM

Reis (PT) NÃO

Ricardo Nunes (PMDB) SIM

Ricardo Young (PPS) NÃO

Sandra Tadeu (DEM) SIM

Senival Moura (PT) NÃO

Souza Santos (PSD) SIM

Toninho Paiva (PR) SIM

Toninho Vespoli (PSOL) NÃO

Tripoli (PV) SIM

Wadih Mutran (PP) SIM

Vavá dos Transportes (PT) NÃO
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